quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

VAGABONDING ... QUE TAL?

Por que resetar sua carreira e viajar o mundo?

Já pensou em tirar um período para viajar por aí?


avião_viagem_turismo (Foto: Shutterstock)
“Um mestre na arte de viver jamais vê uma grande diferença entre seu trabalho e sua diversão, entre seu labor e seu lazer, entre seu corpo e sua mente, entre sua educação e sua recreação. Ele nem poderia distinguir qual é qual. Ele simplesmente persegue uma visão de excelência em qualquer coisa que esteja fazendo e deixa para que os outros determinem se ele está trabalhando ou se divertindo. Para si mesmo, ele sempre parece estar fazendo ambos.”
A visão do escritor L. P. Jacks contida na citação acima é fascinante porque dá asas a uma concepção transcendente das nossas vocações, que vali além do trabalho. Os indivíduos mais fascinantes e realizados jamais procuram conter o seu trabalho dentro de um tempo, local ou definição rígidos. Pelo simples motivo de que, ao menos na maior parte do tempo, suas paixões se misturam com seu trabalho e seu trabalho lhes intriga profundamente.
Algumas pessoas são assim porque são capazes de misturar as suas curiosidades intelectuais com o seu ofício, outras porque trouxeram tal nível de talento à sua atuação profissional que tornaram seus “cargos” indissociáveis da expressão da sua personalidade. Mas, por um longo tempo, isto esteve restrito ao caso de escritores, artistas e grandes intelectuais.
A grande novidade da nossa época, no entanto, é que o nível avassalador de conectividade e acesso à informação tende, cada vez mais, a permitir que esta mistura esteja presente em um número cada vez maior de trajetórias profissionais. Abre-se uma janela de oportunidade para que as “carreiras” sejam cada vez mais a expressão da singularidade de cada indivíduo, da eterna construção (ou descoberta) da sua vocação individual.
Hoje já não vemos mais como excentricidade que, por exemplo, um CEO esteja profundamente envolvido com causas sociais, que um médico seja um bem-sucedido blogueiro esportivo ou que um publicitário seja também uma referência nacional em cervejas artesanais. Os side jobs estão virando um elemento característico das melhores trajetórias profissionais - e por isto mesmo o sucesso está ganhando novos significados.
Especialmente para as novas gerações, chegar ao topo da cadeia de cargos em determinada carreira já não é mais visto como o único sinal possível de sucesso. Mais importante do que isto, cada vez mais os profissionais bem-sucedidos ou de grande potencial abdicam desta possibilidade em favor de algo muito melhor (e, paradoxalmente, menor): encontrar prazer e propósito ao adicionar ao seu trabalho elementos que não caberiam nas suas antigas funções.
Como toda jornada complexa, existem vários caminhos para que um profissional atinja uma visão consistente de como pode conseguir viabilizar uma atuação que seja tanto financeiramente viável quanto plena de propósito e descobertas. Mas, em tempos de alta conectividade, uma das alternativas atraentes, randômicas e aventureiras é fazer deste caminho, literalmente, uma viagem. A ideia essencial é combinar a exploração dos inúmeros caminhos e países deste mundo com o teste de diversas possibilidades profissionais (e com isto financiar o próprio ciclo de viagens). Este que lhes escreve tem testado esta alternativa.
A vida na estrada nos obriga a abandonar antigas rotinas, vícios e pré-concepções sobre nossas próprias competências e até mesmo sobre o que é trabalho. Ela demanda um processo de reinvenção constante, de utilização criativa das nossas capacidades e da aceitação do papel da incerteza e da aleatoriedade (já abordei brevemente a importância disto em outra coluna) em qualquer trajetória – especialmente para aqueles que têm a ambição do controle absoluto do destino.
A vida na estrada também nos mostra a imensa relatividade dos nossos modos de vida, dos nossos valores e preconceitos. É frequente que nas viagens de longo prazo nos surja a impressão profunda de que é possível (e até necessário) viver com menos coisas e menos complexidade, mas com mais pertencimento e serenidade.

Capa do livro “Vagabonding: An Uncommon Guide to the Art of Long-Term World Travel”, de Rolf Potts (Foto: Divulgação)
Para os interessados em rever sua perspectiva de trabalho ou em simplesmente desbravar o mundo vasto, há um livro que é a pedra fundamental de muitos estilos de vida alternativos que surgiram desde o início deste século: “Vagabonding: An Uncommon Guide to the Art of Long-Term World Travel”, de Rolf Potts (ainda sem tradução para o português).
As sutilezas começam pelo título, pois “Vagabonding” é obviamente um jogo de palavras de difícil tradução, que funde os conceitos de “vadiar, andar sem rumo” (“vagabond”) com “formar laços, colar” (“to bond”).
Como em grande parte da literatura que assumidamente iniciou-se com esta obra (por exemplo, Tim Ferriss), o objetivo de sair para viajar o mundo curiosamente não consiste em não ter trabalho e abandonar qualquer ambição.
Bem ao estilo da Geração Y, a ideia é combinar trabalho prazeroso com serenidade financeira e crescimento pessoal.
Em linhas gerais, o livro procura demonstrar como a nossa independência está muito mais acessível do que imaginamos, como é possível financiar sua viagem, definir destinos, ajustar-se à vida na estrada, trabalhar e voluntariar-se em outros países, minimizar as adversidades da vida de viajante e, por fim, como reajustar-se à “vida normal” após o retorno – pois, ao fim e ao cabo, a ideia é abrir a janela de um período potencialmente transformador sem necessariamente abdicar da vida normal. A menos que durante a trajetória você descubra que isto faz sentido para você...
Vagabonding” é, essencialmente, um plano de ação para desligar-se por um tempo de sua vida comum. Mas é também uma visão de mundo que enfatiza a improvisação, a criatividade, a descoberta e o pertencimento a comunidades – enfim, o sonho que só era realista para artistas, escritores, ricaços ou expoentes da contracultura, como Jack Kerouac em “On the Road”.
Neste período (que em geral varia de quatro semanas a tres anos), o objetivo é descobrir e viver a vastidão do mundo e das culturas sobre as quais temos curiosidade. Para isto, é importante captar a visão do autor sobre a diferença entre o viajante e o turista: enquanto o segundo busca apenas experiências exóticas e a confirmação de estereótipos, para ser viajante à la
Vagabonding é necessário muito mais do que hospedar-se em hotéis 5 estrelas e assistir alguns shows locais. Trata-se de uma postura que, independentemente do dinheiro disponível para a viagem, propicia imersão e interação com a cultura local, cria laços com as pessoas e aceita a natureza essencialmente aleatória e de improviso das viagens de imersão, olhando as novas situações que surgirão com entusiasmo e desapego a preconceitos.
Na próxima coluna, resumirei algumas dicas deste livro para os que não puderem ler o original em inglês. Até lá, sugiro ao leitor interessado que deixe a cargo do seu inconsciente a fermentação de uma pergunta: como aliar minhas vocações e competências com a exploração dos lugares que gostaria de conhecer? Não descarte ideias que simplesmente pareçam descomprometidas com uma concepção antiga e rígida de carreira.
Deixe para os outros a preocupação sobre se você estará sendo responsável ou irresponsável, trabalhando ou se divertindo, se educando ou se recreando. Para você, o ideal é que estas dicotomias percam totalmente o sentido.
As informações do artigo refletem as opiniões do autor, e não necessariamente as de Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

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